À ACADEMIA

Era um cego incurável onde afloravam as trevas
O pedagógico mito da caverna, o esquecimento
Um funeral que nos deixava cheio de remorsos
Em uma nuvem que tangível se rendia ao vento
Cultura sucumbindo as corrosões das maresias
Assistíamos incrédulos aos golpes do desalento

Que haja luz eis aí a frase que a todos transforma
E uma brisa varreu os neurônios e amanhece o dia
Um sol percorre os vasos colorindo o puro sangue
Era a jangada da esperança que se perdeu um dia
Mas o mar do esquecimento na força a regurgitou
Escrevendo em sua vela os símbolos da Academia

Filha do sol herdeira dos mares que a todos abraça
Guardiã da alma tourense tão parcialmente mística
Amores cientificamente comprovados nessa aridez
Sonho verde protegido do veneno pobre da critica
Coração pulsante ressuscitando o orgulho pioneiro
Reduto de ideias, farol que aponta a nova política

Pescadora de anseios, santuário das reencarnações
Tradições que nos criaram, costumes imorredouros
Corpo da princesa do litoral norte aos nossos olhos
Povo da esquina venha rever a vila e seus tesouros
Lagrimas de felicidade viajam ao teu passado belo
E a Academia escrevendo te amo a minha Touros

Antepassados retornem para se verem no espelho
História volte ao seu lugar de honra com fantasia
Cultura entre em seu ninho e cante seu belo hino
Política venha acolher nosso povo seja nossa guia
Desfrutai das bênçãos que esta página reescreve
Abre teus braços e acolhe com afeto a Academia

Flávio Santos
Biólogo (UERN)
[Sócio Fundador]

MEU PRIMEIRO POEMA

Por: Antonio Tenório



Primeira flor do lácio, inculta e bela.

Destes mares, navegados por humanos mundanos.

Causadores de danos, dores e flores.

Esperançosos autores, algozes de outrora.

Portugueses donos e fregueses.

Em cima do touro que se transformou em tourinho.

Por meio, sob e sobre a areia da praia foram construídas estórias e a história.

Os donos da terra de hoje foram servos e estrangeiros de outrora.

Os ocupantes, transitantes e andantes de outrora já não existem, ou se existem, foram misturados, miscigenados.

Uma mistura inculta e explícita, terrível e bela.

A vida terrena já existia antes mesmo da religiosa, do marco que se chamam do descobrimento.

Descobriram e excluíram o que havia, o que existia, o que vivia.

Desviaram o rio do mar, o mar do porto, o porto do povo, e este, daqueles.

A madrugada que forjou - e forja a essência dos pescadores – continua existindo, mesmo que inexistindo.

Existir ou inexistir, eis a grande dúvida para os caiçaras deste pedaço de chão.

Madrugada e pescadores, pescadores madrugantes, murmurantes, andantes e errantes, dependentes e contentes como o vento.

Dividiram o território que antes era indivisível territorialmente, geograficamente, mas apenas humanamente – tribalmente.

Praias, rios, dunas, roças, roçados e lagoas, uma lagoa em expansão, expandida lagoa do Boqueirão.

Água, sinônimo de vida, vida cultivável, agricultável agricultura que abastece, fornece e engrandece nosso povo, agricultor e pescador.

Água doce de lagoa, de onde vieram as raízes, do broto do olho da cana, Canabrava.

Por onde andam os cravos, fincados, apregoados, enforcados e massacrados, negros escravos.

Escravos isolados no passado e tolhidos no presente, mesmo que subsidiariamente.

Índios e escravos ou escravos e índios? Qual a distinção? Quem distingue? Quem se importa? Bom mesmo é a vitória, vitória no comício.

Comício de índios ou de escravos? Ou dos dois? Ou de nenhum? Ou de todos? Ou de alguns?

Saudades do tempo em que não vivi, mas que sinto que vivi.

Vivo o que não vivi por meio das estórias de meu pai, de meus avós que quase nunca contaram ao meu pai o que viram e que ouviram.

Contudo, viveram, assim como meu pai vive e viverá na eternidade de minha mente, na brevidade de minha vida serena, singela, grandiosamente pequena.

Numa madrugada aproximaram-se da terra que diziam ser desconhecida, mas que era conhecida e habitada por gente conhecidamente desconhecida e estranha.

Avistaram o que era conhecido e mesmo assim chamaram de desconhecido: o povo, a terra, o marco, a raça, a tribo e a gente.

Para uns, a madrugada foi descanso conhecido, para outros, uma esperança desconhecidamente estranha, esperançosos e estranhos.

O início deu-se a partir da madrugada, o início do fim, ou o fim do início.

O mar foi o lastro de nossos grandes avanços, mas também lastreou nosso fracasso.

Fracassos avançados, povo avançado ou fracassado? Talvez sejamos apenas povo, sem adjetivos.

Adjetivo qualifica, mas quem pode qualificar alguém?

Naquela madrugada nascera o porto que mais tarde se chamaria de touro, ou dos touros.

Nesta madrugada eu encerro e descerro o início ou o fim, ou os dois.


Fortaleza, Ceará. Madrugada do dia 19 de fevereiro de 2021.